EUSÉBIO DA SILVA FERREIRA

Não fossem as constantes dores no joelho esquerdo e o 68.º aniversário de Eusébio seria a fazer aquilo que mais gosta: jogar futebol, no relvado do Estádio da Luz. O Pantera Negra é um dos convidados de honra do Jogo Contra a Pobreza, e terá a honra de dar o pontapé de saída numa iniciativa de cariz solidário que vai reunir em Lisboa alguns dos maiores nomes do futebol mundial.

Hoje, para lhe cantar os parabéns, além dos milhares de adeptos que vão marcar presença no recinto desportivo dos encarnados, a grande referência das águias e do desporto nacional vai ser pessoalmente cumprimentada por Di Stéfano, Bobby Charlton e Beckenbauer (seus grandes amigos), entre muitos outros que já garantiram a presença na partida.

Nascido a 25 de janeiro de 1942 no humilde bairro da Mafalala, em Maputo, o antigo internacional português começou a dar nas vistas como juvenil nos "Brasileiros". A sua técnica aliada a um fulgor físico impressionante despertaram a atenção do Sporting de Lourenço Marques, equipa onde começou a carreira profissional. Os leões africanos tentaram colocá-lo Sporting, mas o Benfica antecipou-se e garantiu o concurso do avançado que desembarcou em Lisboa 17 de novembro de 1960. De águia ao peito tornou o clube encarnado num dos grandes colossos do futebol mundial. Com a camisola das quinas brilhou no Mundial de 1966, disputado em Inglaterra, conduzindo os magriços ao 3. º lugar.

No dia que celebra os seus 68 anos, Eusébio vai voltar a ser o grande embaixador do futebol português.

Eusébio tem saudades de ver o Benfica jogar uma final europeia: "Mas queria, sobretudo, ver o Benfica jogar na Liga dos Campeões. Porque esse é que é o lugar do Benfica! Não é na Liga Europa, por mais respeito que tenha pela prova. O lugar do Benfica é na Liga dos Campeões! E depois chegar aos quartos-de-final, às meias-finais, à final… quem sabe ganhar… porque não? Espero ainda viver o suficiente para ver o Benfica ganhar a Liga dos Campeões", declarou numa entrevista que é hoje publicada no jornal "O Benfica".

O Pantera Negra não se reconhece como o maior rematador da história do futebol. "Houve muitos e grandes no meu tempo. Eu não rematava assim com tanta força. Fui aprendendo com o tempo. Fui treinando. Passava muitas horas a rematar à baliza. Sozinho! Sem defesas nem guarda-redes. Pensava numa barreira ou no lugar onde queria colocar a bola. E depois chutava, chutava, chutava… Sempre com força", conta a velha glória, que fez 68 anos na passada segunda-feira.

O presidente da UEFA, Michel Platini, enalteceu esta segunda-feira a carreira desportiva e os valores humanos de Eusébio, que amanhã será galardoado, no Estádio da Luz, pelo organismo máximo do futebol europeu.

O francês Michel Platini entregará a Eusébio o troféu "UEFA Presidents Award", por ocasião do encontro do Benfica com o Hertha Berlim, da Liga Europa, em "reconhecimento da sua contribuição para o desenvolvimento e sucesso do futebol europeu".

"É um grande privilégio, para mim, entregar o prémio a Eusébio, um dos maiores goleadores de sempre e um embaixador do nosso desporto. Eusébio é um gigante no futebol e sempre defendeu valores como o respeito e o desportivismo. É um exemplo para as novas gerações", disse Platini.

O "UEFA President's Award" foi instituído em 1998, como forma de homenagear futebolistas que se tenham distinguido pelos feitos desportivos, mas também pelas qualidades humanas.

"Será com enorme honra e emoção que receberei este galardão, ainda mais no meu estádio e perante os benfiquistas. Depois de terminar a carreira, o meu exemplo tem servido de inspiração às novas gerações. É mais um incentivo", disse Eusébio, num comunicado distribuído pelo Benfica.

Por outro lado, o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, disse que Eusébio é uma referência, não só do clube, mas também de "Portugal e do futebol europeu".

Demorou mas chegou. Eusébio recebeu ontem, no relvado da Luz, ao intervalo do jogo com o Hertha Berlim, das mãos de Michel Platini o UEFA President's Award.

Estava previsto que o prémio fosse entregue antes do encontro, numa cerimónia que decorreu na sala de imprensa do Estádio da Luz, mas a greve dos pilotos da Lufthansa e o muito trânsito nas estradas da capital, impediram que o troféu chegasse a horas para a cerimónia.

Assim houve apenas lugar a um pequeno discurso do máximo dirigente da UEFA e de Eusébio. Perante o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, e o responsável máximo da Federação Portuguesa de Futebol, Gilberto Madaíl, Platini recordou a gloriosa carreira de Eusébio, deixando-lhe grandes elogios.

"É uma honra entregar este prémio aqui a uma glória do futebol do Benfica, de Portugal, da Europa e do Mundo", frisou o dirigente gaulês, de 54 anos, fazendo questão de falar sempre em português.

De seguida, o Pantera Negra também deixou uma palavra de agradecimento a todos os presentes e mostrou-se comovido pela homenagem. "Sou uma pessoa de poucas palavras, mas estou bastante honroso por receber este prémio. Tive na primeira e segunda cerimónias quando o meu ídolo Di Stéfano e Bobby Charlton foram condecorados e hoje [ontem] sou o terceiro premiado", afirmou o antigo jogador encarnado, de 68 anos, revelando, depois, um desejo.

"Que o Benfica ganhe. Não gostava nada de ser homenageado num dia de derrota para a minha equipa", confessou Eusébio.

Eusébio é convidado de honra da UEFA para a final da Liga dos Campeões que hoje se disputa, à semelhança do que já tinha acontecido na edição do ano passado, em Roma.

O Pantera Negra visitou durante a tarde de ontem uma exposição sobre a Champions, no Parque do Retiro, em Madrid, e ficou emocionado. Contactado por A BOLA, Eusébio exclamou:

-Está lá tudo! Desde a primeira final! Logicamente que também aparece o Benfica na exposição e está lá uma camisola minha! Só por isso já valeu a pena ter vindo a Madrid.

À noite, Eusébio participou num jantar privado, que teve lugar na Câmara Municipal de Madrid e onde estiveram presentes, entre outros, Michel Platini, presidente do organismo europeu, Raymond Kopa, antigo internacional francês e também convidado de honra da UEFA, Alfredo Di Stéfano, presidente honorário do Real Madrid, Franz Beckenbauer e Karl-Heinz Rummenigge pelo Bayern Munique, Massimo Moratti e Luís Figo pelo Inter.

«Na final vou torcer pelos dois, porque o Bayern é o meu clube na Alemanha e o Inter em Itália. Mas quero o sucesso de José Mourinho, porque é português. Gostava, sobretudo, que fosse um grande espectáculo de futebol e que o fair play prevalecesse dentro e fora do relvado. Conheço os dois técnicos, são muito tácticos, mas acredito que vai ser um bom espectáculo», expressou o Rei a A BOLA.